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Resposta à carta de Pedro Parente

Em carta enviada nesta segunda-feira (29/08) via intranet aos petroleiros, Pedro Parente, em tom conciliatório, tenta convencer os funcionários da Petrobras a aceitarem suas argumentações.
Logo no início da carta Pedro Parente chama de “grande novidade” a nomeação do Eng. José Luiz Marcusso como novo gerente executivo de RH para atuar nas negociações do ACT 2016. Não foram descritas as experiências do Eng. Marcusso como gestor de RH e muito menos  quantas negociações de ACT ele já gerenciou.
Em passado não muito distante, algumas empresas costumavam nomear o “cozinheiro” para tomar conta do jardim, e o “jardineiro” para assumir a cozinha. Para justificar davam a isto, erroneamente, o nome de “reengenharia”. Mas na verdade estas movimentações não tinham nada a ver com a conhecida “Bussines  Process Reengineering”. O objetivo era fazer com que o nomeado ficasse dependente da opinião de seus superiores, e por falta de conhecimento não pudesse fazer sugestões e nem contestações. Não conheço o Eng. Marcusso mas espero que não seja este o caso.
Pedro Parente apresenta como se fosse um problema o fato da dívida da empresa de 2008 a 2015 ter subido de US$ 27 bilhões para US$ 126 bilhões.
Para mim isto não é um motivo para lamentação e sim para regozijo, pois o crescimento da dívida está diretamente vinculado à descoberta do pré-sal. Entre 2010 e 2014 a Petrobras investiu mais de US$ 200 bilhões, ou seja uma média anual superior a US$ 40 bilhões. Esta é a origem da dívida. O objetivo era alcançar a produção de 4 milhões de barris dia até 2020. Foram gerados milhões de empregos. Era uma Petrobras que trabalhava “pelo Brasil”. A descoberta do pré-sal foi uma benção de Deus para o povo brasileiro, que só se tornará realidade se bem administrada.
A partir do final de 2014, tendo como justificativa o escândalo da Lava Jato, os planos foram radicalmente alterados e passamos a ter uma Petrobras que trabalha “pelo mercado”. Ou seja, o que se pretende é que um grande erro (Lava Jato) justifique um erro ainda maior. Assim os investimentos foram substancialmente cortados, caindo em 2015 para US$ 23 bilhões e em 2016 para menos de US$ 15 bilhões. Alega-se que a Petrobras não dispõe de recursos, mas isto é uma inverdade sobre a qual já falei em diversos artigos anteriores. O fato é que as atuais reservas de petróleo, que segundo a própria ANP, superam os 50 bilhões de barris, suportam qualquer tipo de equacionamento financeiro. A queda nos investimentos é para abrir espaço para investimentos das petroleiras estrangeiras, para as quais deverá ser doado o pré-sal, num verdadeiro crime de lesa-pátria. O chamado “grau de investimento” é simplesmente um instrumento de pressão das grandes empresas americanas, como ficou demonstrado no documentário “Trabalho Interno”, que recebeu o Oscar de 2011.
Parente afirma que os reajustes salariais entre 2003 e 2015 alcançaram 245%. Não tenho os dados de 2003 mas os gastos com pessoal em 2006 alcançaram R$ 10.40 bilhões e em 2015 foram de R$ 29,73 bilhões (Fonte: Relatórios do Valor Adicionado) o que indica um crescimento de 185%, mas temos que considerar que em 2006 o número de funcionários da Petrobras e subsidiárias era de 62.266 e em 2015 passou para 78.470, um crescimento de 26%. Este crescimento no número de funcionário foi feito para atender à demanda do pré-sal.
Ajustando os gastos em função do número de funcionários para efeito de comparação, os gastos de 2015 deveriam ser de R$ 23,6 bilhões.
Entretanto comparar a Petrobras de 2003 com a Petrobras de 2015 é como comparar “alho” com “bugalho”. A produção total em barris equivalentes em 2003 foi de 1790 mil barris dia, e em 2015 foi de 2.787 mil barris dia, um crescimento de 56%. As reservas em 2003 eram de 12,59 bilhões de barris em 2015 superam 50 bilhões. As vendas totais de petróleo e derivados em 2005 (não tenho 2003) foi de 2.808 milhões de barris dia e em 2015 foi de 3.845. Um crescimento de 38% causado pelo aumento do consumo no mercado interno.
Mas no caso em análise, mais importante é verificar que as receitas brutas da Petrobras que em 2005 foram de R$ 143,66 bilhões em 2015 passaram para R$ 401,32 bilhões. Verificamos portanto que os gastos com pessoal que em 2005 representaram 7,24 % da receita bruta (10,40/143,66) em 2015 caiu para 5,88% (23,6/401,32). Ou seja , o gasto com pessoal em 2015 pesa menos para a Petrobras do que pesava em 2005.
Portanto a retórica de Pedro Parente não é verdadeira e contradiz sua afirmação de “compromisso estrito com a verdade e a transparência”.
Prezados Pedro, Hugo, Ivan, João, Nelson, Roberto e Solange, assim não dá para acreditar que somos “guiados pela convicção de que estamos todos do mesmo lado, que estamos todos trabalhando para o mesmo fim”. Lamentavelmente.
 
Cláudio da Costa Oliveira, economista aposentado da Petrobras.
 
 

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